terça-feira, 18 de maio de 2010

Um olhar diferente sobre a pedagogia … AMOR e SEGURANÇA!


Li esta entrevista e gostei de partilhar convosco! Todos nos deparamos, no nosso dia-a-dia, com alunos com problemas emocionais e comportamentais … Qual a melhor metodologia? As respostas são inúmeras... Mas qual a mais eficaz?
 
Conversa com o pedagogo holandês (John McGee) que criou o conceito de pedagogia da interdependência num doce português do Brasil. (Revista “Pais e Filhos”, Abril de 2009.)

O que é o gentle teaching?

É uma forma de ajudar pessoas, especialmente crianças com problemas, como deficiência mental, autismo, paralisia cerebral ou crianças de rua e crianças agressivas. O objectivo é ensiná-las a sentirem-se bem e seguras junto dos professores e familiares. Muitas são amadas, mas não se sentem amadas. O essencial é dar-lhes segurança e amor.

Mas destina-se especialmente a crianças com algum tipo de problemas ou todas as crianças deveriam ser educadas seguindo o gentle teaching?

Deveria ser a atitude normal. Só que hoje em dia muitas famílias perderam este sentimento, de garantir que as suas crianças se sintam seguras e amadas. Concentram-se mais nas coisas materiais e nas actividades, mas o centro do desenvolvimento humano são os sentimentos de segurança e de amor.

E é a falta desses sentimentos que pode estar na origem de problemas de comportamento das crianças?

Sim. Como acontece com aquelas crianças ‘normais’, que não têm problema nenhum diagnosticável, mas que são muito ‘chatas’.

Se dissermos aos pais que o problema de uma criança com mau comportamento é falta de amor, eles podem ficar ofendidos.

Sim. E eu explico: os pais podem dar muito amor e a criança sentir que não é amada. Aos pais de uma criança assim, eu diria: «Eu sei que ama o seu filho. Esse não é o problema. Mas o seu filho, por alguma razão, não se sente amado». Pode existir um problema por trás: alguém estar a abusar da criança, o divórcio dos pais ou outra insegurança. Mesmo que alguém me dê todo o amor do mundo, se eu não me sentir amado, para mim esse amor não existe.

E como é que se faz uma criança sentir amada?

Temos quatro ferramentas: a nossa presença, as nossas mãos, os nossos olhos e as nossas palavras. Estar presente. Dar muitos abraços. Em vez de dizer «tens de ser melhor na escola», dizer «és tão bom». Mesmo que, na verdade, a criança possa fazer melhor na escola, não serão essas as palavras que a farão sentir bem. É preciso dar esperança. Olhar nos olhos, com amor, e dizer «gosto tanto de ti, és tão bom». E tem de se fazer isto exageradamente, até a criança se sentir verdadeiramente amada. Talvez para a maior parte das crianças do mundo é suficiente dar demonstrações de amor uma vez ou outra, dar um beijo de vez em quando, mas, para outras crianças, é preciso exagerar.

Quando as crianças têm problemas de comportamento, os pais, geralmente, preocupam-se mais em ensinar-lhes regras e disciplina…

Os pais querem muitas regras e muitas coisas funcionais. As crianças sabem jogar jogos de vídeo, mas não sabem o que é um abraço do pai. As prioridades estão erradas. Se eu compro um brinquedo de cem euros para uma criança e não lhe dou um abraço, estou a falhar com algo muito importante.

Acha que a infância está a mudar?

Acho que a ideia de criança deixou de existir. Os pais querem um pequeno adulto. Passam o tempo a exigir coisas a crianças com três e quatro anos: «tu sabes melhor», «senta-te», «pára quieto». E isso é muito triste.

O gentle teaching beneficia tanto uma criança normal como, por exemplo, uma criança autista?

Sim. Cada uma tem os seus problemas. Uma por natureza, outra pelas experiências que viveu. Não se pode dizer que o gentle teaching é bom para esta ou para aquela criança. É absolutamente necessário! Podemos ter 20 mil pessoas a amar-nos, mas se não nos sentimos amados, a vida é um pesadelo.

Como é que se transporta o gentle teaching para a escola?

Não acho que seja uma abordagem tão difícil ou inovadora que os professores precisem de formação. É senso comum. Se sou professor e tenho um aluno que é marginalizado, sei que vou ter de passar mais tempo com ele, sem criticar, sem dizer «tu sabes melhor», «estás a manipular-me» e esse tipo de coisas. Tem de se encorajar a criança e motivá-la para fazer bem. Não leva assim muito tempo, mas é preciso dar mais atenção a essa criança.

Lembro-me de, quando estava no terceiro ano da escola, uma professora me dizer «você não tem valor». Já passaram todos estes anos e eu ainda me lembro destas palavras. O contrário também acontece. Lembro-me de outro professor me dizer que eu era um rapaz bom. Não leva muito tempo a construir, nem a desconstruir, a imagem que temos de nós. Mas é preciso algum tempo.

O método de ensino dos castigos e das recompensas já está ultrapassado?

No mundo industrializado, tem-se adoptado o método dos castigos e das recompensas para modificar o comportamento de crianças. Há mais de 40 anos que vejo esse método. Acho que pode ser benéfico para algumas crianças e não para outras. O que eu sei que funciona com todas as crianças é o amor. Se uma criança tem um problema na escola e eu digo «dou-te um lápis se fizeres estas 10 coisas», ela vai acabar por falhar na mesma. E se, em seguida, eu critico, dizendo «tu sabes fazer melhor», só estou a marginalizar ainda mais essa criança. A atitude deve ser precisamente a contrária: fazer-lhe uma festa na cabeça e dizer «és muito inteligente». Incluindo se a criança não está a fazer nada bem. Elas têm de saber que, como pessoas, são boas. Não vejo qual o valor das recompensas ou dos castigos neste aspecto.

Como é que se usa o gentle teaching no dia-a-dia?

Quando iniciei o gentle teaching, usava-o como uma técnica, agora o objectivo é torná-lo uma cultura. Não posso tratar uma pessoa com amor e gritar com quem está ao lado. Isso seria uma confusão.

O termo português para gentle teaching é pedagogia da interdependência. Por que é que não traduziu à letra, que seria algo como ‘ensino suave’?

A expressão original é gentle teaching, porque foi criada nos EUA. Mas eu gosto mais do nome pedagogia da interdependência. É mais descritivo. Mas este ano devo publicar um livro em inglês com o nome de pedagogia da interdependência e espero pôr um ponto final nesta questão do nome. Embora ache que nos EUA vão dizer sempre gentle teaching, pois já é uma marca. Nos outros países vou tentar mudar.



O QUE NÃO FAZER, SEGUNDO A PEDAGOGIA DA INTERDEPENDÊNCIA

• Ter pensamentos negativos, tais como:

Ele sabe bem o que faz

Ele apenas quer atenção

Ele é manipulador

• Ter atitudes, como:

Gritar

Tomar a atitude de capataz

Agarrar

Apressar

Centrar-se no cumprimento das normas

Brincar ou ter expressões de amor ridicularizantes e inapropriadas para a idade

Usar os cuidadores como guardas

O QUE FAZER, SEGUNDO A PEDAGOGIA DA INTERDEPENDÊNCIA

• Estar presente

• Usar as mãos (o contacto físico) com suavidade e leveza

• Olhar de forma calorosa e carinhosa

• Usar as palavras com serenidade e de forma reconfortante

• Ser tranquilizador

• Mover-se devagar

• Reduzir qualquer sentido de exigência

• Encorajar e dar confiança

In «O essencial da pedagogia da interdependência»

1 comentário:

  1. Pedagogia da Interdependência? Parece solução!
    por que não experimentar?

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