2. LER UM POEMA (Joaquim Pessoa)
ALCÁCER QUE VIER
Em Alcácer eram verdes as aves do pensamento. Eram tão leves tão leves como as lanternas do vento | Em Alcácer eram verdes estas palavras que agora são tão caladas tão cernes tão feitas desta demora. |
Em Alcácer eram verdes os cavalos encarnados. Eram tão fortes tão negros como os punhos decepados | Em Alcácer eram verdes as flores da sepultura. Eram tão verdes tão verdes tão verdes como a loucura. |
Em Alcácer eram verdes as armas que eu inventei. Eram tão leves tão leves tão leves que nem eu sei | Em Alcácer era verde meu amor o teu olhar. Era tão verde tão verde quase à beira de cegar. |
Em Alcácer eram verdes os homens que não voltaram. Eram tão verdes tão verdes como os campos que deixaram. | Em Alcácer eram verdes os lençóis onde morri. Eram tão frios tão verdes como os campos que eu não vi. |
Em Alcácer eram verdes as maças feitas de lume. Eram tão frias tão frias como as dobras do ciúme | Em Alcácer eram verdes as feridas do meu país. Eram tão fundas tão verdes como este mal de raiz. |
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